sábado, 29 de dezembro de 2007

Transposição do São Francisco: será que o Rio Grande do Norte precisa realmente de suas águas?



Prezados companheiros da causa ambiental;

Gostaria de pedir a gentileza para, neste momento, abrir meu Blog externando minha opinião a cerca da Transposição das águas do Rio São Francisco.

De ante mão quero dizer-lhes que, em minha opinião, o Estado do Rio Grande do Norte é, até que me provem o contrário, auto-suficiente na matéria de Recursos Hídricos. Porém, estes Recursos Hídricos são muito mal geridos e aproveitados.

Na região do Seridó, por exemplo, temos toda uma Bacia que contribui diretamente ao rio Piranhas/Assú, que abastece a Barragem Eng. Armando Ribeiro Gonçalves. Nesta Bacia foram instalados centenas de pequenos, médios e grandes açudes, em sua maioria, sofrendo com um grave processo de assoreamento de seus leitos, ampliando o espelho d'água e favorecendo a um aumento considerável da evaporação destes.

Sabemos bem que não é apenas o assoreamento de nossos rios e açudes que vem a comprometer o fornecimento de água para nossa população do semi-árido. A falta de esgotamento sanitário de nossas cidades faz com que todos os efluentes domésticos produzidos por aquelas populações residentes nas cidades do Seridó, devido à falta de esgotamento sanitário, são jogados in natura direto no leito dos rios, descendo por gravidade até atingir o açude mais próximo, contaminando suas águas e, conseqüentemente, deixando-as impróprias para o consumo humano.

Toda invernada, quando os açudes enchem e atingem o nível de transbordamento (sangria), milhões de metros cúbicos de esgoto seguem rio abaixo até encontrarem a barragem de Assú. Hoje, o maior reservatório do Estado encontra-se com suas águas contaminadas, graças à grande quantidade de material particulado e nitrogenado presente. O processo de eutrofização das águas da barragem Eng. Armando Ribeiro Gonçalves podem ser observados facilmente in loco, e nada tem sido feito para se evitar isso. O resultado desta falta de cuidado com as águas da Barragem de Assú são vistas nos postos de saúde das cidades abastecidas por suas águas.

Citarei o caso de Caicó, como exemplo. A maior cidade do Seridó, com seus 65 mil habitantes, produz em média 6.500.000 litros de esgoto por dia, jogados in natura no rio Barra Nova, afluente do rio Seridó, e que vai direto para a Barragem Armando Ribeiro, de onde a CAERN tira água para abastecer, via adutora, a população de Caicó. A grosso modo podemos afirmar que a população de Caicó consome seus próprios excrementos, tudo graças a falta de esgotamento sanitário naquela cidade.

Por fim, caros amigos, gostaria de lhes dizer que se as cidades do semi-árido potiguar não forem saneadas, com seus esgotos efetivamente tratados, se não for feita um programa de recuperação das micro-bácias de contribuição, dragagem e recuperação de rios e açudes e de suas matas ciliares, se a gestão dos recursos hídricos do estado não democratizarem o acesso a este produto substancial para manutenção da vida, eu afirmo: NÃO SERÁ A TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO QUE SALVARÁ NOSSA POPULAÇÃO DA FALTA D'ÁGUA.

No mais, espero que este debate se prolongue e que nós possamos chegar a um denominador comum.