sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

MP apura possível crime ambiental provocado pela Petrobras em áreas de cavernas

Promotora solicita criação de uma unidade de conservação da região, em razão do grande valor histórico, cultural e antropológico.


Por Itaércio Porpino

O Ministério Público Estadual, por meio da promotora de Justiça de Apodi, Patrícia Antunes Martins, instaurou inquérito civil para apurar possíveis danos ambientais causados por atividades da Petrobras em áreas de cavernas situadas em Felipe Guerra, município localizado a 340 km de Natal, na chapada do Apodi.
A promotora também expediu ofício ao prefeito de Felipe Guerra e ao presidente da Câmara de Vereadores do município informando sobre a instauração do inquérito e encaminhando cópia do relatório de inspeção feito pelo Ministério Público na Bacia Potiguar para fins de análise e criação de uma unidade de conservação da região, em razão do grande valor histórico, cultural e antropológico, requisitando ainda do prefeito informação sobre a propriedade das terras onde se localiza o Lajedo do Rosário e o Lajedo de Arapuá, local em que existem 42 cavernas e onde está ocorrendo a exploração predatória de calcário, inclusive de forma artesanal e clandestina.
Ao diretor do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (Idema), Patrícia Antunes Martins pediu, num prazo de 30 dias, a elaboração de parecer técnico acerca de possível lesão ambiental ocorrida em razão da atividade petrolífera e da lavra clandestina de calcário, todas sem licença ambiental.
Ao Ibama, a promotora requereu informações quanto à existência de autorização ou licença ambiental concedida à Petrobras para a perfuração de poços e colocação de tubulações nas áreas das cavernas situadas no Lajedo do Rosário e Lajedo do Arapuá. Assim como o Idema, o órgão também terá que elaborar parecer técnico acerca de possível lesão ambiental ocorrida em razão da atividade petrolífera e da lavra clandestina de calcário.

Inspeção
A instauração do inquérito civil e as demais solicitações feitas pela promotora Patrícia Antunes Martins resultaram de uma inspeção realizada pelos promotores de Defesa do Meio Ambiente Antônio de Siqueira Cabral e João Batista Machado Barbosa.
Os promotores visitaram as cavernas de Felipe Guerra em agosto de 2007 a fim de verificar in loco denúncias feitas ao MP sobre a degradação ambiental na área. Os problemas foram constatados e registrados em um relatório no qual Antonio de Siqueira e João Batista Machado informam que os lajedos Arapuá e Rosado, com suas 42 cavernas, estão em local completamente desprotegido, sujeitos a todo tipo de depredações, como exploradores clandestinos de calcário e visitantes não orientados.
Em vista dessa situação, os promotores finalizam o relatório sugerindo, entre outras providências, a realização de um zoneamento espeleológico para a definição das cavidades naturais subterrâneas no Rio Grande do Norte, voltado para a criação de manejo e normas específicas.

ONG
O alerta sobre a situação dos lajedos Arapuá e Rosado, em Felipe Guerra, foi dado pelas ONGs Sociedade para Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental do RN (Separn) e Sociedade Espeleológica Potiguar (Sep).
O pesquisador Rostand Medeiros, que faz parte das duas entidades, conta que no final de janeiro de 2006 as ONGs levaram um grupo de espeleólogos de São Paulo e Minas Gerais, entre eles Augusto Auler, considerado uma sumidade em espeleologia, para conhecer as cavernas de Mossoró, Martins e da chapada do Apodi.
Ao verem os dutos da Petrobras ao lado das cavernas de Felipe Guerra, os visitantes chamaram atenção para o risco de ocorrer um dano ambiental no caso de vazamento de óleo. Outra irregularidade que os espeleólogos observaram foi a construção de um poço, por empresas que prestam serviço a Petrobras, próximo às cavernas.
“Nós procuramos os promotores João Batista Machado e Antônio de Siqueira Cabral para fazer a denúncia”, diz Rostand. Segundo ele, o RN é o sexto estado em número de cavernas cadastradas na Sociedade Brasileira de Espeleologia. “Não são cavernas grandes, mas têm grande valor do ponto de vista ambiental, histórico e arqueológico. São pequenas jóias e precisam ser preservadas”.
Fonte: No Minuto.com

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A economia de energia elétrica com o aquecedor solar pode chegar a 70%

Abro espaço aqui no BLOG para divulgar um projeto de lei, no mínimo revolucionário, criada pela prefeitura da cidade de São Paulo, e que cria a obrigatoriedade do aquecimento de água pela luz solar para os novos imóveis que possuam quatro ou mais banheiros. Creio que se esta nova lei pegar, esta poderá ser uma excelente oportunidade de difundir o aproveitamento da energia solar nas obras de engenharia em todo o país, gerando economia de água e energia elétrica de origem hidrelétrica.
Gustavo Szilagyi
Lei que exige aquecimento solar em São Paulo gera polêmica entre especialistas


Por Murilo Alves Pereira


O aquecimento da água de imóveis novos com quatro ou mais banheiros, na cidade de São Paulo, deve contar com uma ajudinha do sol nos próximos meses. É o que prevê um decreto que começa a valer em 21 de julho deste ano. O texto, que inclui também a instalação de piscinas aquecidas, regulamenta a lei 14.459/07. Polêmica, a nova lei tem gerado divergência entre especialistas.
Os defensores da iniciativa argumentam que a economia estimada de energia elétrica com o aquecimento da água pela luz solar, em sistemas bem dimensionados, chega a 70%. A fonte alternativa ajudaria principalmente no horário de pico (entre 18h e 20h), quando todo mundo resolve tomar banho e o chuveiro elétrico consome cerca de 60% da eletricidade do país, segundo pesquisa da Eletrobrás divulgada em 2007, que abrangeu 18 estados e 21 concessionárias, representando 92% do mercado. Reduzir um pouco essa conta pode ser um passo em direção à sustentabilidade.
Mas há quem discorde. Uma das questões levantadas pelos críticos é a falta de conhecimento técnico sobre o sistema. "A tecnologia dos painéis solares está pronta, mas falta uma solução completa para o sistema de aquecimento como um todo", critica o engenheiro civil Roberto Lamberts, pesquisador do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Para Lamberts, o aquecimento solar é um item importante para a eficiência energética na construção civil, mas é preciso conhecer melhor seu funcionamento e informar os usuários sobre suas particularidades, para que sejam evitados erros de instalação e de operação. É o que pensa também o engenheiro civil Vanderley Moacyr John, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, a tecnologia de aquecimento solar ainda é limitada e, em alguns casos, pode gerar aumento do consumo de energia elétrica e de água.
John explica que todo sistema de aquecimento solar precisa de um "backup" elétrico ou a gás para aquecer a água na falta de dias ensolarados. Mas os fabricantes não têm investido nos sistemas de controle eletrônico que alteram automaticamente o uso de uma fonte de energia para outra. "Basta a temperatura cair um pouco para o aquecedor elétrico ser acionado", aponta. "Além disso, todo sistema que acumula água quente e que é instalado de forma convencional tende a gerar um desperdício de água", diz o professor da USP. Como a água é aquecida no reservatório, cada vez que alguém abrir a torneira é preciso deixar escoar toda a água fria do encanamento até chegar a aquecida. "Dependendo da distância do acumulador ao ponto de consumo o gasto pode ser grande", completa.
É imprescindível, portanto, o uso de uma bomba que faça circular a água aquecida ininterruptamente pelo encanamento e o dobro de tubulação. Segundo John, há problemas metodológicos para o dimensionamento correto do sistema no caso de prédios verticais. "Corre-se o risco de produzir um sistema que não funcione, sendo necessário continuar o aquecimento usando energia elétrica ou fóssil".
De acordo com o engenheiro eletricista José Ronaldo Kulb, diretor de uma empresa que comercializa aquecedores solares, a tecnologia já está bem difundida no país. Ele concorda que a circulação constante no interior da tubulação seja necessária, mas não vê essa questão como problema: "Uma pequena bomba capta a água aquecida do reservatório e faz girar pelo encanamento, com gasto energético inferior a uma lâmpada de 60W", diz.
O engenheiro mecânico José Tomaz Vieira Pereira, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também não vê impedimento técnico ao uso do aquecimento solar no Brasil. "A estrutura necessária para o aquecimento solar já existe em hotéis e edifícios que contam com sistema de aquecimento central (tubulações isoladas termicamente e circulação da água)", afirma.
O principal problema, na visão do pesquisador, é a falta de informação. Ele acredita que há muito amadorismo no setor e instalação incorreta do sistema de aquecimento solar, o que deve continuar acontecendo até que a energia elétrica se torne, de fato, um artigo caro.
Fonte: UOL Ciência e Saúde

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Interior do RN vive escassez no abastecimento

Por Marcelo Hollanda
Repórter Tribuna do Norte
O caminhão pipa alugado pelo Exército anda lentamente pela BR 304 sob o sol escaldante dos últimos dias. Vagarosamente, ele corre no mesmo sentido da adutora Sertão Central Cabugi levando a mesma água do canal do Pataxó. Enquanto o caminhão vai atender uma pequena propriedade ou distrito da região, os quilômetros de tubulação da adutora foram construídos justamente para diminuir a desigualdade hídrica na região do Sertão de Angicos com água captada no açude Armando Ribeiro Gonçalves.
Uma desigualdade que não se reflete no nível das águas dos açudes, mas na sua gestão e na preservação dos mananciais. Em 2004, por essa mesma época, o sangramento dos maiores reservatórios do Estado promoveu o “carnaval das águas”. Era o fim da escassez de uma década. Os últimos quatro anos o regime irregular de chuvas baixou muito o nível dos açudes, mas não há uma viva alma no Seridó ou na região central do Estado que não acredite que chuva é só questão de tempo - tão certo como ela cai de cima para baixo.
O problema é bem outro. Para contá-la vamos recorrer a personagens unidos por um único laço: a pobreza. É por esse fio condutor que será possível mostrar, independentemente do nível dos reservatórios, o drama daqueles que nunca têm água na torneira, mesmo a poucos metros da água.
Águas do açude Itans estão poluídas

É quinta-feira e o calor abafado desanima logo cedo as famílias que moram nos arredores do açude de Itans, a poucos quilômetros de Caicó, no Seridó. Ali, o comentário geral é do homem que morreu ao pular do chapéu da construção usado para medir o nível das águas. Ele mergulhou e não voltou mais. Ficou preso no fundo do açude que já foi um dos mais importantes do Estado antes do surgimento das barragens Armando Ribeiro Gonçalves, Umari, Poço Branco e Gargalheiras. Foram precisos dois dias para resgatar o corpo. O segundo assunto das mulheres reunidas nas soleiras das portas é a advertência feita dias antes por um técnico da Caern para que as pessoas evitem tomar banho nas águas do Itans. “Ele disse que está tudo poluído com agrotóxico e pilha de rádio”, conta Maria da Paes Barbosa.
Como ela, as quase 30 famílias que ocupam pequenas casas nas proximidades do açude bebem água tratada da Caern liberada sempre nas segundas e terças para serem usadas até o final da semana. A água de tomar banho, lavar roupa e louça é retirada pela cooperativa dos moradores do Itans. “ Sabemos agora que essa água é imprópria até para o banho”, diz Maria da Paes. Má notícia para um casal de andarilhos, mãe e filho, que há dias estão na estrada sem uma gota de água. Antônio Aureliano e dona Raimunda saíram de Campina Grande, na Paraíba, com o vago objetivo de chegar um dia a Mossoró. Eles agora sabem que não poderão lavar as roupas ou se lavar no Itans - e permanecem parados, a poucos metros da água, pensando a quem pedir ajuda.
Dono de muralha sonha com um dia que chova muito
O nome de batismo dele é Manoel Germano da Silva, 72 anos, natural de Campo Grande, antigamente Augusto Severo, Oeste do Estado. Mas você pode tratá-lo por um título que nem ele conhece: dono de terras às margens do maior açude do Estado - o Armando Ribeiro Gonçalves.
Não é nada disso. Manoel nunca foi dono de nada e seu maior legado, que ele não deixará aos 14 filhos espalhados pelo mundo, é um cercado de mais de 300 metros construídos nos últimos três anos com restos de pereiro e jurema, amarrados com arame farpado, para proteger uma pequena área no coração do açude. A obra, monumental para um homem da sua idade, contou com a ajuda eventual de um filho e só. Guarnece uma pequena plantação de milho e feijão que, apesar de estar a poucos metros da água da represa, os braços já cansados do sertanejo não conseguem mais puxar com ajuda de baldes. “Eu nunca estudei e minha vida toda foi nisso aqui”, diz ele manejando a enxada contra o cascalho. A cerca também protege umas poucas cabeças de gado e cabritos que costumavam pastar por ali logo depois do sangramento da barragem, em 2004.
Um ano depois disso, quando a muralha começou a ser erguida, a grama nas margens do reservatório estava alta - bem diferente de como se encontrava na semana passada, raspada pelos dentes dos animais. Manoel Germano lembra que, em 2004, o Armando Ribeiro sangrou com 28 dias de chuvas. Se isso voltar a acontecer, é certo que a muralha construída por ele terá que ser desmontada rapidamente para não ser levada pelas águas. Como ficaria? Nesse momento, o velho faz uma pausa, soma vantagens, subtrai desvantagens e sapeca uma resposta surpreendente: “Eu preferiria mil vezes que voltasse a chover muito”. Nesse dia, sem a cerca que demorou três anos para erguer, o velho agricultor pelo menos veria brotar o capim e teria a terra novamente úmida para plantar.
O estresse do xerife da água

A 25 km de Caicó, pela RN 118, no Distrito de Lajinha, esqueceram de avisar ao “xerife da água” que a contaminação do Itans pode ser a causa provável de alguns dos seus aborrecimentos domésticos.
Raimundo Medeiros da Silva, o Raimundo Preto, cuida há oito anos da distribuição da água que chega nos carros pipa em tempos de racionamento - como agora. É, provavelmente, a pessoa mais odiada do distrito de 550 habitantes e uma pitoresca rua principal, toda calçada de paralelepípedos, onde a melhor coisa a fazer é ver o tempo passar. Há duas semana, a mulher de Raimundo, Maria Madalena de Jesus, a baiana, acordou com o corpo em chamas com uma coceira infernal nos braços e pescoço. Ao amanhecer estava cheia de pipocas, que o médico que visita regularmente o distrito atribuiu à água. Agora, ela anda passando uma pomada dermatológica sem qualquer resultado. Raimundo Preto, que suporta todo o tipo de xingamento na hora de distribuir as seis latas de 18 litros por família do caminhão pipa, também não tem uma vida nada fácil. Com um histórico de três paradas cardíacas e uma coleção de dezenas de pílulas para tomar todos os dias, ele diz já ter pedido as contas ao prefeito de Caicó Bibi Costa (irmão do deputado estadual e ex-governador Vivaldo Costa) mais de uma vez. “Mas a minha vida é esta desde quando Roberto Germano (anterior a Bibi) era o prefeito de Caicó: “Ser chamado de babão”, lamenta.
Na entrada do Distrito há duas caixas d’água onde deveriam estar a água tratada. A poucos metros, há mais uma caixa responsável por receber o conteúdo dos carros pipa alugados pelo Exercito. Recentemente, a lagoa que armazenava as águas do Itans, bombeadas para o distrito, começou a cuspir areia dos canos. Sem condições de bombear água dali, sob pena de queimar o motor da bomba, os moradores foram aconselhados a se resignar e esperar os carros pipa. Não é novidade para eles. Com um grande número de aposentados e agricultores, a vida de Lajinha sempre esteve intimamente ligada à falta de água.
Na entrada da cidade, onde habitualmente se reúnem para fiscalizar a natureza e falar da vida alheia, homens do distrito comentam que no ano de eleição as soluções aparecerão, e rapidinho. “É sempre assim”, diz o aposentado Silvestre Ambrósio dos Santos. “É nessa época que as adutoras e os açudes novos aparecem, até o dia em que as urnas são fechadas”. E acrescenta, fazendo um desdém com os lábios: “Depois disso...” Ironicamente, nesse momento, Raimundo preto localiza um caçote (um sapo) dentro da caixa que armazena água do Itans. “Pois é, o bichinho vive aqui”, explica. Estava morto.

Felipe GuerraCavernas que contam a história da Terra

Por Anna Andrade

No Sol do meio-dia, os exploradores atravessam o lajedo à procura da entrada da caverna. Apesar do calor, todos usam macacão de mangas compridas, botas e capacete. Caminham com cuidado para desviar das urtigas e despistar as abelhas. Seguem uma trilha marcada pelos dejetos de bodes e cabras. Tudo isso a procura da árvore, que é a entrada para os mistérios do subsolo. A partir daí, entram em buracos inóspitos habitados por morcegos, aracnídeos e cobras, engatinham por túneis apertados e escuros.À primeira vista, esse roteiro parece não ser atraente. Mas, na verdade, é um privilégio para poucos. O homem já percorreu a maior parte dos caminhos da natureza, escalou montanhas, mergulhou nos mares e foi até o espaço para pisar na lua. Entretanto, muitas áreas do subsolo ainda continuam sendo um universo inexplorado. E é justamente isso que encanta: saber que ali ninguém esteve antes, descobrir novas paisagens e imaginar uma época em que os homens pré-históricos usavam as entradas das cavernas como abrigo.

Mapeamento das cavernas



Segundo Sólon Almeida, fundador da Sociedade Espeleológica Potiguar – SEP, existem 219 cavernas catalogadas no Rio Grande do Norte. Só na área de Felipe Guerra são 129. Estas cavernas ainda estão passando pelo processo de mapeamento feito por ele e outros membros da SEP. O registro destas áreas é essencial, pois somente depois desse processo a caverna passa a “existir” e a ter a sua preservação auxiliada pelas leis nacionais de proteção ambiental.

Lajedo do Rosário



Saindo do município, em direção a zona rural, chega-se ao Lajedo do Rosário, também conhecido como Lajedo da Carlinha. No local, o visual é deslumbrante. A vasta área é coberta por rochas, com árvores que brotam em solo seco e cabras que passeiam pelo local. A vegetação é repleta de pequenas plantas urticantes, várias cactáceas como o xique-xique e coroa-de-frade, havendo, também árvores bem desenvolvidas como cráibeiras, mulungus, faveleiras, pereirose oiticicas, dentre as inúmeras espécies nativas.
Dentro das cavernas, o percurso é cheio de caminhos sinuosos, túneis estreitos, locais onde o solo é irregular e pontiagudo, onde só é possível atravessar rastejando. Em algumas cavernas esse caminho se alarga e leva a salões, que variam de tamanho. Alguns são iluminados pelas fendas que permitem a passagem de luz solar, as chamadas clarabóias. Olhando para cima, pode-se observar árvores com longas raízes, descendo metros para se fincarem ao solo. Um visual inesquecível.

Formação das Cavernas

A história das cavernas de Felipe Guerra, remonta a época na qual a costa leste do continente sul-americano era presa à costa oeste do continente africano, há cerca de 90 milhões de anos, no período Cretáceo. Quando os dois continentes começaram a se separar, formou-se um mar no espaço criado. Seres vivos que habitavam tal mar, quando morriam, deixavam acumuladas no leito desse oceano as partes rígidas de seus corpos, como as carapaças e os pedaços de corais. Essa matéria orgânica é constituída por carbonato de cálcio, semelhante aos ossos humanos.
Passados alguns milhões de anos, a deposição contínua desta matéria orgânica, gerou uma camada com centenas de metros de espessura que, uma vez comprimida por outros materiais que foram se depositando sobre ela, gerou uma rocha chamada calcário. Quando a América do Sul já estava totalmente separada da África, essa rocha foi exposta à superfície e, uma vez estando em contato com a chuva e o vento, passou a ser dissolvida em suas partes mais frágeis. É comum ver fraturas ou rachaduras em qualquer rocha e esses são os locais mais vulneráveis.
No caso da rocha encontrada em Felipe Guerra, foi por essas fissuras que a água penetrou, dissolvendo o calcário, e gradativamente alargando as rachaduras. O alargamento das rachaduras das rochas no interior da Terra, seja pela água da chuva, seja pela água dos lençóis freáticos ou rios, criou um ciclo no qual o material é retirado de alguns locais e depositado em outros. Assim surgem as cavernas, criadas nos vazios abaixo da superfície. Porém, em outras épocas, quando a água que dissolve o carbonato de cálcio fica saturada, faz o carbonato precipitar formando os cristais nas paredes da rocha. Essas formas são conhecidas como espeleotemas, dentre os quais, as mais populares são as estalactites.

Preservando o Ecossistema

Nas cavernas, existe um delicado ecossistema adaptado à vida subterrânea. Alguns seres usam esse ambiente como proteção e outros para reprodução. Os que vivem exclusivamente nas cavernas são chamados de Troglóbios. Eles geralmente apresentam adaptações como a despigmentação do corpo e o atrofiamento dos olhos, causados pela falta de iluminação. Peixes, crustáceos e insetos, por exemplo, são comuns entre as espécies já identificadas. A conservação dessas áreas é muito importante para a preservação dos seres e de materiais orgânicos, como ossadas de animais extintos, pólens de antigos vegetais que, quando estudados, revelam importantes informações sobre a história da Terra. As pessoas que retiram o calcário para produzir a cal e a perfuração de poços para a exploração do petróleo na região, são as principais ameaças para o ambiente das cavernas.
O turismo ainda não chegou ao local e talvez isso não aconteça. Ainda não foram feitos estudos que avaliam a capacidade de pessoas que as cavernas sustentam ou se é mesmo possível receber visitantes freqüentemente, sem que isso cause impactos. Contudo, é importante ter em mente que para entrar nas cavernas deve-se ir acompanhado por um guia especializado ou um espeleólogo. O acesso é difícil, e por dentro o deslocamento é complicado, pois, como já foi dito, elas são pequenas e apertadas e algumas aranhas que as habitam possuem um veneno necrosante. Por isso, a importância de se usar roupas adequadas. A vestimenta ideal para a exploração das cavernas é um macacão grosso com as extremidades fechadas. Mas é bom deixar claro que os insetos só atacam em defesa, o que é muito raro acontecer porque geralmente eles fogem ao sentir a presença de pessoas.
Para a população da cidade, as cavernas ainda são um mistério. A maioria nunca desceu pra ver o que há dentro. É comum as pessoas comentarem sobre as rochas que estão na superfície, como a Abaeté, que segundo a lenda esconde um bezerro de ouro, e a famosa Pedra da Abelha que deu o primeiro nome a cidade. Além das cavernas, quem for à Felipe Guerra irá encontrar um povo muito simpático e hospitaleiro, que logo reconhece um forasteiro, além de locais maravilhosos para banho, como o Olho d’Água e o chuveirão do Tamarindo, que se encontram em propriedades particulares. E para encher o “bucho”, uma comida regional deliciosa, como feijoada, galinha caipira e pirão de banana tradição na cidade , além das carnes de boi, porco e bode. Em Felipe Guerra há muita fartura e tranqüilidade. Certamente é um local onde a natureza se preparou para encantar os visitantes.