sábado, 5 de janeiro de 2008

Carbono a mais no ar mata, diz pesquisa

O governo da Califórnia acaba de ganhar um trunfo na sua luta judicial contra a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês). Um estudo feito na Universidade Stanford conseguiu isolar o dióxido de carbono atmosférico dos demais poluentes e ligá-lo de forma direta com mais mortes no mundo.
Na última quarta-feira, o governo de Arnold Schwarzenegger entrou na Justiça contra a EPA. O órgão bloqueou no mês passado a nova legislação californiana que criou padrões rigorosos de emissão de poluentes para o setor de transportes.
A justificativa usada pelo órgão federal --que havia décadas não impugnava uma decisão estadual-- era de que não havia indícios técnicos de que a poluição estava realmente piorando a saúde das pessoas.
Porém, o estudo que será publicado na revista "Geophysical Research Letters" diz exatamente o contrário.
"Isso [mais carbono e mais mortes] é uma relação de causa e efeito e não é apenas uma correlação" afirma Mark Jacobson, o principal autor do trabalho. O modelo matemático desenvolvido por ele mostra como o dióxido de carbono aumenta a temperatura global e provoca, a cada grau que o termômetro sobe, mais mortes.
Esse processo, segundo Jacobson, estaria causando a morte de 20 mil pessoas em todo o mundo por ano. "Essa pesquisa tem uma implicação particular para a Califórnia, Estado que tem seis cidades entre as dez mais poluídas dos Estados Unidos", afirma o pesquisador.
Para o cientista, essa situação peculiar --muita poluição-- justifica o fato de a Califórnia ter uma política específica, e mais agressiva, para tentar reverter o problema.
"No total, 30% de cada mil mortes adicionais que ocorrem nos EUA por causa do aumento de 1C devido ao carbono serão registradas na Califórnia, que tem 12% da população americana", calcula Jacobson.
Para ele, não há dúvida de que a maior emissão de carbono é a grande vilã no aumento do número de casos de pessoas que morrem por problemas respiratórios ou cardíacos.
No modelo feito em Stanford, vários fatores foram incorporados. Desde o transporte dos gases e das partículas em suspensão na atmosfera até os efeitos do vento, da chuva, do calor e das nuvens. Os processos oceânicos também entraram na conta.
"O mais lógico, em termos de próximo passo, é reduzir o dióxido de carbono na atmosfera."

Fonte: Folha de S.Paulo 05/01/2008

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Região Central do RN pode desertificar-se em 50 anos.


A recente dissertação de Mestrado defendida pelo pesquisador Alexandre Colombo, divulgada pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (leia matéria abaixo), mostrando como o aquecimento global interferirá na distribuição geográfica das espécies que compõem o Bioma da Mata Atlântica no Brasil nos próximos 50 anos, nos faz remeter a nossa pesquisa, também de mestrado, defendida recentemente na Universidade Federal do RN, e que trata do mesmo assunto (aquecimento global), porém com referencias ao Bioma de Caatinga, a Desertificação e a Região Central do Estado, mais especificamente a região do Município de Lajes.
Em nossa pesquisa, procuramos mostrar como a interferência humana sobre um bioma tão frágil como a caatinga, associado a eventos climáticos extremos e a ação de uma provável elevação nas temperaturas médias globais pode levar toda uma região a desertificar-se em um curto espaço de tempo, calculado segundo as metodologias que fundamentaram as previsões do IPCC, em até 50 anos.
Ocupando uma área de 665,7 km2 (equivalente a 1,25% da superfície estadual), o Município de Lajes até o início do século XX era um pequeno distrito do Município de Jardim de Angicos, localizada na Região Central do Estado do Rio Grande do Norte. Devido sua posição geográfica favorável, durante 1/4 do século XX Lajes foi visto como rota principal entre os municípios produtores de mercadorias e a capital do estado, Natal, situada a 125 km a Leste do município. Esta confortável posição de entreposto comercial cristalizou-se com a construção da estrada de ferro Sampaio Correia, em 1919, que agilizou o escoamento das mercadorias advindas do interior com Natal, principalmente o algodão, que até a década de 1980 era a principal fonte econômica do Estado do Rio Grande do Norte. A crise do algodão associada a construção de estradas rodoviárias ligando diretamente os mercados produtores com a capital, fez com que Lajes perdesse a condição de principal entreposto comercial do estado, e sua economia entrasse em decadência.
Vastas áreas de caatinga onde outrora se plantava algodão foram abandonadas, deixando os solos destas terras livres para a ação erosiva dos ventos e das torrenciais chuvas de outono. Não bastasse a crise econômica vivida no município, sua posição geográfica a coloca sobre o sombreamento das escarpas da Serra do Feiticeiro, o que favorece sobremaneiramente a dispersão das nuvens de chuva sobre o município, que se caracteriza como um dos mais secos do estado, e por tanto, como um importante laboratório para o estudo da desertificação.
Durante nosso estudo, foram levantados dezenas de dados referentes aos índices de aridez de Lajes que apontaram, em todas suas variáveis, para um profundo processo de ressecamento do ar na região, o que corrobora inclusive com os dados referentes ao aquecimento global divulgados pelo IPCC no mês de fevereiro de 2007.
Segundo os dados levantados em nossa pesquisa, se nenhuma ação governamental for feita para tentar reverter os processos em voga, a possível diminuição no volume de água presente no sistema, acompanhado da elevação da aridez e o provável colapso do ecossistema local, poderá nos próximos 50 anos deixar a região onde se localiza o município de Lajes totalmente impróprio para o sustento da vida humana. Se isso vier a se confirmar, poderá vir acarretar em uma migrassão da população ai residente em direção ao litoral, onde a oferta de água, alimentos e terra poderá não suportar a demanda, o que elevaria a grave crise social já hoje existente.

Aquecimento global ameaça Mata Atlântica

São Paulo (AE) - Dezenas de espécies de árvores da mata atlântica poderão ter sua sobrevivência comprometida pelo aquecimento global nas próximas quatro décadas - inclusive aquelas que estão dentro de unidades de conservação, segundo um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisa é uma das primeiras a avaliar o impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade do bioma, considerado um dos mais ameaçados do mundo. O pesquisador Alexandre Colombo analisou a área propícia de ocorrência de 38 espécies arbóreas da mata atlântica, levando em conta condições ideais de temperatura e precipitação. Depois, lançou sobre elas as previsões do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima para o ano 2050. No cenário mais otimista, com aumento de temperatura menor ou igual a 2°C, quase todas as espécies (37) deverão perder, em média, 25% das áreas hoje propícias para sua sobrevivência. Uma única espécie seria beneficiada, com um pequeno ganho de 8% de área. No cenário mais pessimista, com aumento menor ou igual a 4°C, todas as 38 espécies sofreriam uma redução média de 50% de sua área potencial de ocorrência - um duro golpe para um bioma que já teve 93% de sua cobertura florestal devastada. "Todas as espécies, nos dois cenários, sofrem um deslocamento para o sul do País, em direção a áreas mais frias", afirma Colombo, que defendeu o trabalho como sua tese de mestrado no Instituto de Biologia da Unicamp. "O impacto não será catastrófico, mas será grande. Nossos filhos verão a mata atlântica, mas ela não será a mesma que vemos hoje." O estudo é conservador, pois se baseia na área potencial total de ocorrência das espécies, e não na área real de ocorrência atual - muito menor, já que a maior parte do bioma não existe mais. As florestas que sobraram estão fragmentadas, separadas por cidades, pastos e plantações. Por causa disso, aponta Colombo, muitas espécies estão “ilhadas" e não serão capazes de fazer as migrações necessárias naturalmente.

Fonte: Tribuna do Norte - 03/01/2008

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Rio Grande do Norte vai ganhar um museu de mineralogia

O Rio Grande do Norte vai ganhar um museu de mineralogia. O objetivo é promover o resgate histórico da mineração no estado e o acesso da comunidade às informações técnicas sobre a produção mineral do RN. O museu vai funcionar nas dependências do Centro Federal de Educação Tecnológica do RN
O museu terá um acervo de cerca de 2.000 exemplares de minerais e rochas além de 800 peças de geologia e mineração pertencentes à extinta Companhia de Desenvolvimento Mineral do RN, cedidas pelo Governo do Estado.
O museu vai ser construído graças a um convênio, assinado no último dia 21 de dezembro, entre o CEFET-RN, a Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do RN (FUNCERN) e a Petrobras. O projeto está orçado em R$ 653.984,00.
A previsão é de que as obras comecem no mês de fevereiro e que tudo fique pronto dentro de seis meses.

Fonte: TN Online, 02/01/2008

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Balanço do ano de 2007


Prezados amigos.

Passados 365 dias, chegamos a mais um recomeço. Vira-se a página do calendário e reiniciamos a contagem de um novo ano.
2007 foi um ano para não esquecermos jamais. Foi um ano para guardarmos para sempre em nossas memórias pelas conquistas e derrotas, pelos momentos de alegria e pelos momentos em que derramamos lágrimas.
Este foi o ano marcado pela maior luta ambiental que nossa cidade já viu. Os debates a cerca da revisão do Plano Diretor de Natal que se arrastaram por 2 anos e 4 meses tiveram fim no mês de maio, em uma tumultuada sessão da Câmara de Vereadores, quando a câmara votou favorável as emendas dos vereadores Dikson Nasser, Geraldo Santos e Adenúbio Melo, liberando o gabarito e aumentando o Índice de Adensamento Básico da Zona Norte e de parte da área de amortecimento do Parque das Dunas. Mesmo depois do veto do Prefeito Carlos Eduardo Alves a estas danosas emendas, nossos ilustres vereadores, inclusive 3 dos 4 vereadores do Partido Verde (Julio Protásio, Sargento Siqueira e Aquino Neto), derrubaram o veto do prefeito e abriram margem para uma ocupação desenfreada e desordenada naquela parte da cidade.
Os debates a cerca do Plano Diretor de Natal registraram também grandes vitórias da sociedade Natalense, onde a preservação de Ponta Negra e o freio no BOOM imobiliário dos conjuntos Ponta Negra e Alagamar, além da manutenção do AEIS de Mãe Luiza se configuram como grandes marcos destas conquistas.
Este foi um ano em que pela primeira vez, desde Alberto Maranhão, um prefeito teve a coragem e o discernimento de defender a cidade e fazer valer a Lei Ambiental e Urbanística da cidade. Um Hotel teve sua obra embargada na Via Costeira, e cinco espigões deixaram de sujar o lindo cartão postal do Morro do Careca.
Em 2007 vimos também 40 toneladas de peixe agonizarem até a morte nas poluídas águas do rio Potengi, e seu causadores, até o presente momento, não sofreram nenhuma punição criminal pelo dano cometido.
O ano que hora termina foi o ano em que a população acordou para o submundo das cavernas: Tombamento ao Patrimônio Histórico, Paisagístico e Espeleológico do Estado da Furna Feia, em Mossoró; Audiência Pública com fins de criação de Unidades de Conservação da Natureza na região da Chapada do Apodi, área de maior concentração de cavidades naturais do Estado, dentre outras.
2007 foi um ano de muito trabalho para os Promotores de Meio Ambiente que integram o Ministério Público de nosso Estado, que foram nossos olhos, e nossa voz no grito pela preservação do Meio Ambiente de nosso estado e cidade, defendendo com amor e afinco desde a qualidade de nossas águas até nosso patrimônio cênico paisagístico.
Concluo lembrando da voçoroca da Mahatma Gandhi. O inverno de 2007 foi o último em que a população de Nova Parnamirim passou suas noites acordada esperando pelo pior a cada chuva forte que caia em nossa cidade. Depois de dois anos e meio de muita luta, foi entregue neste mês de dezembro a Nova Mahatma Gandhi. A população de Nova Parnamirim agora pode dormir sossegada, e o Rio Pitimbu ganha uma sobre vida com seu canal fluvial finalmente dragado.
Que 2008 nos reserve momentos de muitas alegrias, de muito desenvolvimento para nossa cidade e estado, porém de muita responsabilidade sócio-ambiental.
Feliz Ano Novo para todos.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Quem rouba não preserva

Em sua edição de dezembro de 2007, a revista SUPERINTERESSANTE traz uma entrevista com o maior lider do PARTIDO VERDE na atualidade, o Dep. Federal Fernando Gabeira, entrevista esta que nosso Blog faz questão de reproduzir na integra para todos os amigos.


Fernando Gabeira jura que não abandonou a causa verde – ainda que hoje dedique boa parte do seu tempo a correr atrás dos corruptos em Brasília.


Ele teve participação decisiva na CPI dos Sanguessugas. Chamou o senador Renan Calheiros de nada menos do que “chefe de quadrilha”. E atualmente não tem nenhum pudor ao bradar aos quatro ventos que seu objetivo é a reconstrução da ética no Congresso Nacional. Muito bem. Mas onde está o deputado Fernando Gabeira ambientalista, aquele que fundou o Partido Verde? Segundo ele próprio, esse Gabeira continua ativo e operante. Apesar de agora dedicar seu talento a levantar a voz em alto e bom brado contra a corrupção em Brasília, em um momento, aliás, em que escândalos políticos se tornaram rotina, o deputado jura que o combate à ladroeira está intimamente ligado à proteção ambiental, causa com que passou a simpatizar – e encampar – a partir da década de 1970, quando esteve exilado na Europa. A corrupção vai mais longe, diz Gabeira: ela atinge em cheio o ambiente e dificulta a sua preservação. Também está ligada a perversidades como a exploração do trabalho escravo e a destruição da floresta Amazônica.


SUPER: De que forma a corrupção no Brasil afeta a preservação do ambiente?
GABEIRA: A corrupção no Brasil não fica restrita à esfera política, ela prejudica, sim, a preservação do nosso ambiente. Isso acontece de várias maneiras. O mau uso do dinheiro no campo do saneamento básico, por exemplo, faz com que aumente a poluição das águas e dos locais onde moram as pessoas com poucos recursos. Além disso, quase todas as obras ambientais são superfaturadas. Outro aspecto é que inúmeras construções voltadas para o ambiente são irregulares. Muitas vezes também empresas que ganham licença para atuar em determinadas áreas poluem mais do que seria admissível, inclusive do ponto de vista legal, e fica tudo por isso mesmo. A corrupção e a questão ambiental estão intimamente entrelaçadas, elas andam juntas.


SUPER: É verdade que há denúncias de usinas de álcool desmatando e usando trabalho escravo? GABEIRA: Sim. Geralmente, a corrupção em situações assim não se limita a um crime ambiental. Os grandes agentes da corrupção também cometem crimes sociais, explorando a mão-de-obra. A falta de respeito à natureza também está ligada à falta de respeito ao ser humano. O pior é que isso não acontece apenas com as usinas de álcool. Estou fazendo um trabalho agora sobre o carvão vegetal. Os produtores de carvão vegetal exploram os trabalhadores de uma forma muito ruim e atuam em áreas que precisamos preservar.


SUPER: Como resolver essa questão?
GABEIRA: Com campanhas e conscientização. Do ponto de vista humanitário, temos que erradicar de uma vez por todas o trabalho escravo. Do ponto da vista da destruição da floresta, precisamos criar regras e zelar para que sejam cumpridas. A produção de carvão vegetal é um bom exemplo. Precisamos incentivar a compra do carvão produzido em áreas onde existe reflorestamento, e proibir a comercialização daquele que é extraído de áreas de mata nativa, muitas vezes onde se praticava trabalho escravo.


SUPER: Acontecem grandes desmatamentos em áreas do Ibama, que são do governo. Como isso é possível?
GABEIRA: As terras do Ibama equivalem hoje a 3% do território nacional. Isso é quase o tamanho da França. O Ibama não tem pessoal para cuidar de toda essa área. Criamos as unidades de sistema de conservação, mas não há condições de desenvolver um plano de manejo e vigilância, e essas áreas vivem sendo atacadas. O governo criou agora o Instituto Chico Mendes, para cuidar dessas áreas. Mas cada passo dentro de terras do Ibama terá de ser monitorado.


SUPER: O BNDES foi criticado por oferecer recursos a empresas com critérios questionáveis relacionados ao ambiente. Isso acontece mesmo?
GABEIRA: Já houve tentativas de proibir financiamentos para esse tipo de empresa. Acho que esse procedimento está começando a ter um papel na aprovação de todos os projetos que chegam ao BNDES. Acontece que muitos dos que pedem financiamento o fazem utilizando a força política de seus padrinhos. Aí caímos novamente no tema da corrupção. Os critérios do financiamento público muitas vezes são corrompidos.


SUPER: Ações ao estilo do Greenpeace, que chamam atenção de forma midiática para a causa ambiental, mais ajudam ou atrapalham?
GABEIRA: O Greenpeace é uma organização que depende do financiamento dos seus associados. Para que os associados tenham noção de que a entidade está trabalhando, é necessário que ela se comunique por meio da mídia. Por isso grande parte das ações são voltadas para terem grande repercussão, e não necessariamente ajudam a causa ambiental.


SUPER: De que forma é possível ajudar o ambiente sem interferir no dia-a-dia de pequenas comunidades que dependem da natureza para viver?
GABEIRA: O problema do desmatamento provocado pelos pequenos agricultores tem raízes antigas, é socioeconômico e precisa ser encarado dessa forma. O desmatamento na Amazônia foi produzido em grande parte por uma visão incompleta de reforma agrária. As pessoas foram colocadas lá sem ter como sobreviver, o dinheiro que elas conseguem é por meio da mata. Isso aconteceu na época da ditadura militar e continua acontecendo agora.


SUPER: Por que continuamos repetindo o erro?
GABEIRA: A questão da reforma agrária e da proteção da Amazônia teve um peso muito grande no imaginário popular. A floresta Amazônica sempre foi vista como uma área de fronteira que tinha que ser defendida. A ditadura militar entendeu que colocando pessoas lá teríamos mais condições de defender esse espaço. É verdade que a ditadura tinha um objetivo e a esquerda tem outro, que é o de facilitar o acesso de todos à terra, mas ambos se igualam na incapacidade de oferecer assistência a quem recebe essa terra e de evitar o desmatamento.


SUPER: As plantações de soja continuam invadindo regiões de selva amazônica?
GABEIRA: Exato. Há agora um crescimento de 8% de desmatamento para plantar soja em comparação com o ano passado. Isso é resultado de um movimento econômico que não se consegue disciplinar.


SUPER: Será que não se consegue ou não há interesse?
GABEIRA: Existem interesses contrários. Há um interesse forte do governo federal no sentido de evitar o desmatamento por saber que isso afeta a imagem ambiental do Brasil no exterior, e esse tema é cada vez mais importante. Por outro lado você tem dirigentes locais que têm interesse em atender os seus eleitores e fazem uma política local. O resultado é que o governo federal puxa o discurso para um lado, mas toda a sociedade local está comprometida com o desenvolvimento econômico local, a qualquer preço, sem se importar com as conseqüências, incluindo para as gerações futuras. O caminho é concretizar e viabilizar um projeto que atenda a todos. É preciso convencer as pessoas que o desenvolvimento sustentado também dá dinheiro e dessa forma tentar atrair a elite local.


SUPER: Não há uma falta de política ambiental do governo que ofereça uma alternativa?
GABEIRA: Sem dúvida. A saída é ter sustentabilidade econômica que possa realmente fazer avançar um processo de proteção do ambiente. Porque senão vão continuar desmatando sem nenhum problema. Hoje nós temos um sistema, o Sivam, que custou US$ 1,4 milhão e é destinado a proteger a Amazônia. Ele oferece dados muito reais, sabemos bem como está a situação da floresta. Mas só isso não adianta.


SUPER: Quais propostas de sustentabilidade econômica poderiam ter sucesso na Amazônia, Pantanal e outras regiões de mata nativa que vêm sendo desmatadas indiscriminadamente? GABEIRA: Atualmente, na Amazônia existe uma área equivalente ao tamanho do estado de Santa Catarina que está desmatada. Um projeto de reflorestamento seria muito importante, claro. Mas seria bom também ter em mente que a riqueza de biodiversidade permite que se faça pesquisa com muitas possibilidades econômicas, de geração de dinheiro mesmo. Então, compete ao governo, que acompanha isso, saber como aproveitar essa biodiversidade e fazer parcerias para explorar economicamente o que pode advir daí. Existe uma terceira possibilidade que é desenvolver o turismo ambiental, que vem crescendo e pode ter um papel econômico importante. Uma outra possibilidade é a compra da produção sustentada de produtos extraídos por nativos em áreas protegidas. Todas essas possibilidades podem ser perfeitamente combinadas entre si.


SUPER: Qual a sua opinião sobre o futuro da questão ambiental daqui a 30, 40 anos?
GABEIRA: Tenho pensado muito sobre isso. O momento atual mostra que as propostas do Protocolo de Kyoto perderam muito com países como EUA, China, Índia e Rússia ficando de fora. Isso limita o instrumento, mas não a idéia de que devemos buscar uma solução. Há uma tendência de aumento do consumo de combustíveis, o que tem contribuído para aumentar o preço do petróleo. Como o petróleo vai acabar, de qualquer forma, isso força a busca de novas fontes de energia. O preço do petróleo e as pressões internacionais para o fim do aquecimento global certamente vão fazer com que esses países mudem sua política a médio e longo prazo. Não tem jeito. Os EUA vão ter eleições agora e a posição fundamentalista do Bush com toda a certeza será superada. Temos países como Inglaterra e Alemanha que conseguiram diminuir as emissões de carbono consideravelmente. Podemos depositar as esperanças num projeto pós-Kyoto, por exemplo, algo que a gente consiga definir até 2050, um caminho de redução das emissões. Precisamos também admitir e entender que independentemente do que a gente faça haverá aumento da temperatura global. E temos que nos preparar para as conseqüências.


FERNANDO GABEIRA • Casado, pai de duas filhas, o deputado Fernando Gabeira tem 66 anos e mora no Rio de Janeiro quando não está em Brasília. • Ajudou a planejar o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick no Rio, em 1969. A operação foi desmantelada e Gabeira partiu para o exílio, na Europa. • Na Suécia, país em que passou maior parte do tempo exilado, fez de tudo: foi desde roteirista de TV até condutor de metrô em Estocolmo. • Ao voltar do exílio, no verão de 1980, freqüentava a praia de Ipanema usando a parte de baixo do biquíni que pegou emprestado da prima Leda Nagle. • Sua filha Maya, de 20 anos, é uma das melhores surfistas de ondas grandes do mundo.