quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Região Central do RN pode desertificar-se em 50 anos.


A recente dissertação de Mestrado defendida pelo pesquisador Alexandre Colombo, divulgada pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (leia matéria abaixo), mostrando como o aquecimento global interferirá na distribuição geográfica das espécies que compõem o Bioma da Mata Atlântica no Brasil nos próximos 50 anos, nos faz remeter a nossa pesquisa, também de mestrado, defendida recentemente na Universidade Federal do RN, e que trata do mesmo assunto (aquecimento global), porém com referencias ao Bioma de Caatinga, a Desertificação e a Região Central do Estado, mais especificamente a região do Município de Lajes.
Em nossa pesquisa, procuramos mostrar como a interferência humana sobre um bioma tão frágil como a caatinga, associado a eventos climáticos extremos e a ação de uma provável elevação nas temperaturas médias globais pode levar toda uma região a desertificar-se em um curto espaço de tempo, calculado segundo as metodologias que fundamentaram as previsões do IPCC, em até 50 anos.
Ocupando uma área de 665,7 km2 (equivalente a 1,25% da superfície estadual), o Município de Lajes até o início do século XX era um pequeno distrito do Município de Jardim de Angicos, localizada na Região Central do Estado do Rio Grande do Norte. Devido sua posição geográfica favorável, durante 1/4 do século XX Lajes foi visto como rota principal entre os municípios produtores de mercadorias e a capital do estado, Natal, situada a 125 km a Leste do município. Esta confortável posição de entreposto comercial cristalizou-se com a construção da estrada de ferro Sampaio Correia, em 1919, que agilizou o escoamento das mercadorias advindas do interior com Natal, principalmente o algodão, que até a década de 1980 era a principal fonte econômica do Estado do Rio Grande do Norte. A crise do algodão associada a construção de estradas rodoviárias ligando diretamente os mercados produtores com a capital, fez com que Lajes perdesse a condição de principal entreposto comercial do estado, e sua economia entrasse em decadência.
Vastas áreas de caatinga onde outrora se plantava algodão foram abandonadas, deixando os solos destas terras livres para a ação erosiva dos ventos e das torrenciais chuvas de outono. Não bastasse a crise econômica vivida no município, sua posição geográfica a coloca sobre o sombreamento das escarpas da Serra do Feiticeiro, o que favorece sobremaneiramente a dispersão das nuvens de chuva sobre o município, que se caracteriza como um dos mais secos do estado, e por tanto, como um importante laboratório para o estudo da desertificação.
Durante nosso estudo, foram levantados dezenas de dados referentes aos índices de aridez de Lajes que apontaram, em todas suas variáveis, para um profundo processo de ressecamento do ar na região, o que corrobora inclusive com os dados referentes ao aquecimento global divulgados pelo IPCC no mês de fevereiro de 2007.
Segundo os dados levantados em nossa pesquisa, se nenhuma ação governamental for feita para tentar reverter os processos em voga, a possível diminuição no volume de água presente no sistema, acompanhado da elevação da aridez e o provável colapso do ecossistema local, poderá nos próximos 50 anos deixar a região onde se localiza o município de Lajes totalmente impróprio para o sustento da vida humana. Se isso vier a se confirmar, poderá vir acarretar em uma migrassão da população ai residente em direção ao litoral, onde a oferta de água, alimentos e terra poderá não suportar a demanda, o que elevaria a grave crise social já hoje existente.