terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Transposição do São Francisco tem obras reiniciadas

As obras da transposição do rio São Francisco foram retomadas ontem nos municípios de Cabrobó e Floresta, no sertão do São Francisco, em Pernambuco, sem manifestações ou protestos dos movimentos sociais que condenam o projeto do governo federal. “Nosso estilo de trabalho não é o confronto”, afirmou o bispo de Barra (BA), d.Luiz Flávio Cappio, que fez jejum de 24 dias, em dezembro, contra a transposição, com o apoio de movimentos sociais e da Confederação Nacional dos Bispos (CNBB).

O retorno do Exército aos trabalhos é, para ele, “uma fotografia da imensa insensibilidade e falta de atenção e de respeito do governo federal com os movimentos sociais e a sociedade civil como um todo”. Ele reiterou a falta de diálogo do governo federal em torno de uma obra de tal grandeza, orçada em R$ 4,9 bilhões. “O governo federal não quer dialogar com o povo, não aceita a participação da sociedade brasileira, que foi alijada e marginalizada”, acusou d. Cappio, ao reafirmar a “total falta de espírito democrático” do governo federal.

No final de fevereiro, os movimentos sociais contrários à transposição irão se reunir em Sobradinho (BA), em assembléia geral. “Estou aberto para conversar, é só ele telefonar”, reagiu o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. “Eu converso com todo mundo, sou um homem do Parlamento, experimentado no contraditório”, disse, por telefone, à reportagem. “Estou aberto como sempre estive, é só ele (d. Cappio) ligar para mim, sou pragmático”.

O ministro frisou, porém, não admitir que o diálogo embuta a premissa de paralisação das obras. Ele disse aceitar que se apresentem novas experiências e visões que possam ser incorporadas ao projeto de interligação de bacias.

O bispo, que representa segmentos da sociedade civil, defende um outro conceito de obras, voltadas prioritariamente para a revitalização do rio e para os pequenos agricultores do semi-árido. O governo federal quer levar água para abastecer municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e promover projetos agrícolas.

Fonte: Tribuna do Norte, 08/01/2008

COMENTÁRIOS (Gustavo Szilagyi)


A grandiosidade da obra que pretende levar as águas do Rio São Francisco até as bacias dos rios Piranhas/Assu e Apodi/Mossoró, no Rio Grande do Norte, além de outras bacias que irão atender outros quatro estados do Nordeste, são proporcionais ao tamanho do erro que se está cometendo, pelo menos no que compete ao nosso estado do RN e ao vizinho estado do Ceará.
Com os mesmos R$ 5 bilhões de reais que serão gastos nessa obra, poder-se-ia revitalizar as nascentes do "velho Chico", restabelecendo seu volume hídrico histórico; dragar sua foz, restabelecendo sua navegabilidade; construir dezenas de quilômetros de adutoras, redistribuindo as águas armazenadas nos maiores reservatórios hídricos como Armando Ribeiro Gonçalves/RN (2,6 bilhões de m3), Curemas-Mãe d'água/PB (1,4 bilhões de m3), Oróz (1,9 bilhões de m3) e Castanhão/CE (6,7 bilhões de m3).
Este volume de recursos poderia ser utilizado ainda, por exemplo, para levar Saneamento Básico a todos os municípios situados ao longo das principais Bacias Hidrográficas, evitando assim a contaminação das águas acumuladas nas centenas de barragens e açudes existentes, e que hoje possuem suas águas com altos teores de contaminação orgânica, vide a barragem de Assu, maior e principal manancial hídrico do estado do Rio Grande do Norte.
Por falar em Rio Grande do Norte, vale a pena lembrar que no ano de 2000, ou seja, a exatos 08 anos, o Governo do Estado inaugurou na bacia hidrográfica do Apodi/Mossoró duas grandes barragens, que juntas tem capacidade de acumulação de quase 1 bilhão de m3 de água, e que até hoje não tem serventia alguma: barragens de Santa Cruz do Apodi e Umari. Nenhum projeto de transposição de suas águas foi feito, bem como nenhum projeto de irrigação foi instalado.
Neste sentido, comungo com os argumentos do Prof. João Abner, doutor em Recursos Hídricos e professor da UFRN. Transpor as águas do Rio São Francisco é um erro tão grave quanto o de não democratizar o acesso as águas armazenadas nos maiores reservatórios do Nordeste.

Um comentário:

Layana disse...

Tem jeito não. é obra com cara, jeito e trejeito de obra eleitoreira. Coisa faraônica, pra dizerem "nunca na história des país.. e blá blá blá