Por CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
Pesquisadores da Embrapa foram impedidos de participar de um seminário para debater o Código Florestal na última terça-feira, na Câmara dos Deputados.
Segundo o órgão, não houve veto, apenas uma "orientação" para que os cientistas evitassem falar "em nome da Embrapa" sobre o tema, já que oficialmente a empresa não tem ainda opinião sobre o assunto, ainda em discussão no governo.
Cientistas que apresentaram seus dados no seminário, porém, queixam-se de censura aos colegas.
A Embrapa é parte do grupo de trabalho constituído em julho pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e pela ABC (Academia Brasileira de Ciências) para examinar as evidências sobre as relações entre ambiente e agricultura.
O grupo revisou mais de 300 publicações científicas e finalizou um relatório que visa subsidiar a mudança no Código Florestal, a ser votada na Câmara em março.
No encontro da última terça, convocado pela Frente Parlamentar Ambientalista, os pesquisadores da Embrapa apenas exporiam algumas conclusões do relatório.
Foi o que fizeram outros membros do grupo de trabalho da SBPC, ligados a instituições como USP, Unicamp, Inpe e Ministério da Ciência e Tecnologia que tampouco têm posição oficial sobre o tema, mas liberaram seus cientistas para falar.
OUTRO LADO
O diretor-presidente da Embrapa, Pedro Arraes, afirmou que não houve "nenhuma proibição" à presença dos cientistas da empresa no seminário em Brasília. "Nunca vou fazer isso na vida."
Ele disse, porém, que deu uma orientação aos cientistas para que eles tomassem "cuidado com posicionamentos". Assim, evitariam dar "conotação política" ao trabalho da Embrapa.
"Nós não conhecemos o que estava sendo discutido naquela reunião, e eu tenho de zelar pela parte técnica."
Arraes é parente do governador Eduardo Campos (PE), e assumiu a presidência com endosso do PSB.
Segundo ele, a orientação não partiu do Ministério da Agricultura, mas teve o aval do ministro Wagner Rossi.
Rossi debate com a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) um projeto alternativo de Código Florestal.
A ideia é que a proposta resolva os pontos mais críticos para ruralistas e para ambientalistas, sem deixar que a Câmara aprove o relatório de Aldo Rebelo.
"Eu falei que a pessoa pode ir lá, mas tem de tomar cuidado com posicionamentos, para não carimbar as coisas como se fossem da Embrapa", disse Arraes em entrevista à Folha.
Fonte: Folha de São Paulo, 25/02/2011
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