quinta-feira, 10 de março de 2011

CRIME AMBIENTAL

Ambientalistas se revoltam com corte indiscriminado de árvores

Moradores também não concordam com a ação e reclamam dos impactos

Uma mangueira com mais de 100 anos de idade foi cortada no Largo Santa Inês, no Alecrim, entre as avenidas Presidente Bandeira e Alexandrino de Alencar. Os moradores da rua em que a árvore pertencia não sabem dizer o porquê de ela ter sido cortada, já que ela não apresentava sinais de que estava morta. O ambientalista Haroldo Mota, da Ong Baobá, foi até o local e ficou indignado ao constatar que a mangueira estava com o tronco intacto e dando frutos. A equipe da Secretária Municipal de meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) alegou que a árvore estava sem vida, com risco de tombamento e que o corte foi requerido por meio de um abaixo assinado dos moradores. Mas no local, as opiniões se contradizem e não foi mencionada a questão do replantio.

Para Haroldo, não foi apresentado um laudo técnico satisfatório. “Dá para perceber pelo tronco da árvore que ela estava forte, firme. Apenas uma camada do caule estava coberta por cascas provenientes de uma poda mal feita. A árvore só precisava de uma manutenção, e não ser arrancada. Estão tirando as árvores da cidade como se não houvesse um amanhã”, diz Haroldo, decepcionado com o descaso da prefeitura.

Juliano Kildenne Nascimento mora no largo há mais de 25 anos. Formado em Controle Ambiental, o jovem acha que faltou uma analise ambiental concreta sobre a árvore. Ele diz que a mangueira apresentava cupins, mas como toda árvore frondosa, esse problema é muito comum e poderia ter sido eliminado por meio de remédios. E por estar com a copa muito grande, seus galhos estavam caindo sobre os carros, mas nada que pudesse causar estragos, pois a arvore não corria risco de tombamento. “Foi uma atitude precipitada. O tronco da arvore estava maciço, sem sinais de infiltração de água. Estava dando frutos, a folhagem estava boa e não tinha nada que a comprometesse. Ela só precisava de uma poda”, reforça o morador.

O jovem agora está preocupado com a ilha de calor que vai se formar na rua. Ele recorda tristonho as lembranças de seus avós sobre as árvores do largo de Santa Inês. Eram dez mangueiras, que proporcionavam sombra, ventilação e serviam de ponto de encontro da vizinhança e onde os mais velhos se reuniam para jogar cartas. Das dez mangueiras centenárias, agora só restava uma, e nunca houve replantio das outras. “Vai ser horrível suportar esse calor. É uma pena porque essas árvores eram muito antigas, o retrato do Alecrim, e agora não há o que fazer, pois até uma nova arvore seja plantada e atinja o mesmo porte, já será muito tarde”, afirma Juliano.

A estudante Mirelle Raiara mora há cinco meses na rua e não entendeu o porque da prefeitura ter cortado uma árvore que estava boa. “Imagine o calor que vamos sentir agora. A mangueira estava normal”, diz ela. Haroldo conta que não é primeira vez que ele presencia um corte indiscriminado de árvores em Natal, enquanto aquelas que realmente podem causar risco a população demoram muito para ser retiradas. Em Ponta Negra ele flagou o corte de tamarineira sem que estas estivessem comprometidas.

No ano passado, O Jornal de Hoje publicou uma matéria sobre uma árvore que estava para cair, próximo à rua Afonso Pena. A dona da casa que morava em frente à árvore morta, Úrsula Tatiana Oliveira, esperou mais de um ano para que a árvore fosse cortada. O tronco estava podre, as folhas secas, e parte dela haviam caído e derrubado parte do muro de Úrsula. A raiz estava se soltando e já havia arrebentado a calçada de sua casa. No entanto, a Semurb ignorou o pedido e só após a reportagem vir a público, a árvore foi cortada. “Quando é algo que precisa ser feito, porque pode arriscar a vida de alguém ninguém faz nada, mas para cortar árvores sadias só porque um galho caiu num carro, eles fazem e fazem rápido, sem consultar a população, sem demonstrar um laudo competente”, reage Haroldo, indignado.

O ambientalista alerta para as conseqüências do corte indevido de arvores. Segundo ele esse comportamento afetará o ser humano como o surgimento das ilhas de calor. O intenso número de veículos emitindo gases poluidores, a construção desenfreada de edifícios e a devastação das áreas verdes provocarão aumento da temperatura e da poluição. Além do desconforto térmico, a falta de árvores vai comprometer a saúde do indivíduo. “As árvores tem o importante papel de fornecer oxigênio ao ser humano realizando a troca de gás carbono, alem de fornecer sombra, frutos, água e auxiliar no equilíbrio da biodiversidade”, explica Haroldo.

A retirada das árvores fará com que os organismos se sobrecarreguem para filtrar o oxigênio, o que dificilmente irão conseguir estando em um meio ambiente poluído. Com isso aumentarão as doenças respiratórias e cardio vasculares. O intenso calor gera tonturas, cansaço e irritação. O câncer de pele também será muito comum em conseqüência da falta de sombra. “Sem as florestas, a água do planeta deixará de ser produzida, as precipitações pluviométricas diminuirão e o planeta se transformará num caos”, alerta. O calor pedirá o consumo maior de equipamentos de ventilação e refrigeração, obrigando uma maior produção de energia e escassez de combustível. Neste cenário que Haroldo vislumbra, a degradação da natureza acarretará cada vez mais em perdas humanas e econômicas. “Como será nos próximos anos, com essas calamidades resultantes do desequilíbrio ambiental? questiona.

Para Haroldo a magoa do corte da mangueira vai permanecer. Ele acha que deveriam pelo menos ter resguardados os frutos e partes da árvore para serem replantadas. As sementes seriam depositadas em um local apropriado para o crescimento ilimitado da árvore. No entanto, tudo se perdeu, e o ambientalista não sabe quando essa conduta irá se modificar. “Ninguém teve respeito e dignidade com a árvore. Alguém deveria pensar em tudo demonstrando dignidade com todos os seres, abandonar mais a cultura do ter e explorar a era do ser, estimulando a conexão com a terra e os seres vivos”, conclui seu desabafo.

Fonte: Jornal de Hoje. Divulgado pela ONG Baobá.

Um comentário:

gpontom disse...

POR FAVOR NÃO DELETEM ESTE COMENTÁRIO

Mais uma vez gostaria de contestar veementemente o comentário feito por Haroldo Mota, com relação a retirada de uma mangueira que realmente estava morrendo, no interior do Largo Santa Inês, a referida árvore estava com uma grande broca em seu tronco, secando os galhos e o mais grave tombando em direção a uma rede de alta tensão, inclusive esta situação foi constatada pelo professor Nivaldo designado pelo próprio Haroldo Mota para fazer uma vistoria técnica no local. Os problemas do Largo Santa Inês são outros que eu realmente estou combatendo com muita dificuldade, pois aqui em Natal ainda não existe uma consciência ecológica autêntica. Na maioria das vezes algumas pessoas usam o tema politicamente ou para se auto promoverem promover.