quinta-feira, 10 de março de 2011

ONG Baobá

Abrimos espaço para a ONG Baobá, do amigo Haroldo Mota.


Gustavo Szilagyi



Caros amigos,

Escrevi um artigo no ano passado, datado no dia 30 de agosto, intitulado “Tamarindo, chora na praia da Pipa”. Pois, bem estou escrevendo “Onde estão as árvores da minha cidade? Para relatar mais um crime cometido em relação as nossas árvores.

Recebi uma ligação de um amigo, dia 24, quinta-feira, por volta das 17:15h, relatando que no Largo de Santa Inês, localizado por trás do supermercado RedeMais Daterra, bairro do Alecrim, uma mangueira iria ser derrubada, e pediu-me que fosse analisar o caso.

Cheguei pouco mais de 50 minutos na árvore. Estava na minha bicicleta elétrica debaixo da árvore e um senhor que mora defronte, disse-me para sair dali que estava correndo risco, aquela árvore estava para cair, eu disse que não havia risco algum, ele argumentou que a árvore estava com o tronco pobre e a prefeitura iria cortar a árvore amanhã, pelo motivo de colocar em risco a comunidade. Fiquei muito preocupado com essa possibilidade.

O Alecrim

O bairro do Alecrim, segundo Câmara Cascudo foi batizado em homenagem a planta da localidade, onde era ofertada por uma senhora durante os funerais que se destinavam ao cemitério, no inicio do século passado. Hoje é um bairro com forte comércio e responde por uma gama de serviço e geração de emprego, com sua tradicional feira livre e comércio de camelôs. O bairro completará 100 anos de existência, neste ano.

Um das minhas preocupações com esse fato, era de que a Mangueira tinha uma condição fitossanitária boa, que carecia apenas de poda de equilíbrio, retiradas de alguns galhos secos. Meu amigo relatou que ela pertencia a uma fazenda, que havia inúmeras outras árvores daquela, na região: duas no largo e algumas outras próximas a Av. Alexandrino de Alencar.

Na mesma hora, liguei para Aristotelino Monteiro que trabalha na prefeitura, e relatei a situação, como também para Nivaldo Calixto, Prof. aposentado do IFRN.

No dia seguinte, sexta-feira (25/02), voltei ao local para verificar se realmente a prefeitura iria mandar a equipe para realizar o trabalho. Fiquei espantado! O caminhão já estava lá, com o pessoal trabalhando. Meu amigo, falou-me que teve um abaixo assinado para realizar o corte da árvore.

Liguei novamente para Aristotelino e não consegui falar com ele. Pouco tempo depois, quando já não estava no local, o telefone toca, era Aristotelino, falo que o pessoal da Semsur estava cortando a árvore. Ele me falou que iria ver o caso.

Por volta das 12:30h volto ao local, e verifico que o pessoal só havia cortado alguns galhos. Registro várias impressões fotográficas, como fiz pela manhã: a copa da árvore, o tronco, suas folhagens e frutos, a rua, a praça e os caminhões da prefeitura. Fiquei tranqüilo, Aristotelino conseguiu parar o corte da árvore.

Parque dos Mangues

No período da tarde, o promotor de Justiça Dr. Márcio Diógenes, havia convocado várias instituições para fazer uma visita técnica na área do mangue do município de Natal, cujo objetivo era verificar como estava sendo a recuperação do mangue e a desocupação da área por parte dos carcinicultores da região as margens do Rio Potengi próximo ao bairro de Igapó. Onde deverá ser construído o Parque do Mangue, produto turístico de alto valor ambiental em sustentabilidade de negócios. As instituições presentes eram: Ministério Público Estadual, Ibama, Idema, Semsur, Tamar, Ong Baobá e SOS Mangue (vejam fotos em anexo).

Também fazia parte dessa visita Aristotelino. Perguntei se havia solucionado o problema do corte da árvore. Ele falou-me que conversou com a pessoa encarregada do setor no qual falou que a árvore estava totalmente morta e com os galhos secos, havia sido uma solicitação dos moradores, pois colocava em risco a comunidade. Mostrei as fotografias que estavam na minha máquina fotográfica e ele ficou espantado “a história era totalmente outra... a árvore estava em sua plenitude”!

A noite, conversei por telefone com o Prof. Nivaldo, havia também visitado no período da manhã e conversou com vários moradores. Ele achou que não era necessário a retirada da árvore, apenas fazer a poda de equilíbrio e manutenção, no tronco onde foi retirada a casca, a parte interna estava boa.

No dia seguinte, sábado, sabendo que o secretário Kalazans Bezerra, Secretário da prefeitura, estaria participando de uma palestra na livraria Paulus, Centro, sobre a campanha da fraternidade de 2011, cujo tema era Fraternidade e a Vida no Planeta. No intervalo, converso sobre o assunto, ele imediatamente liga para a pessoa encarregada, mas não consegue falar.

Na segunda-feira, dia 28, telefono várias vezes para Kalazans e Aristotelino, não consigo comunicação com os dois. Devido a outros compromissos, só retornei ao local na quarta-feira, dia 02 de março, por volta das 13h. Acreditando que diante dos meus esforços, teria ajudado na preservação da árvore.

Para meu espanto, só restava uma parte do tronco da mangueira, uma escavação ao seu redor, onde estavam cortando as raízes da árvore e vários pedaços do caule cortado.

Várias Impressões

Novamente fiz várias impressões fotográficas e constatei o vigor da árvore, mesmo se tratando de um ser vivo com mais de 130 anos. Os anéis de crescimento (cerne) e o alburno (parte entre a casca e o cerne) em perfeito estado como também suas raízes.

Registrei algumas entrevistas com moradores sobre o caso: Mirele Raiara e Herman Zarate, não foram consultados sobre o corte da árvore acham que foi devido os frutos (mangas) estarem amassando os carros dos moradores. Juliano Faheina que é formado em Controle Ambiental pelo IFRN, acredita que faltou uma análise ambiental mais rigorosa “a população desse largo vai enfrentar um problema muito sério, devido a falta dessa cobertura que durante décadas propiciou uma sensação de bem estar natural”.

Questionamento

O que questiono é a forma do zelo público com o patrimônio ambiental das árvores da cidade. No primeiro caso, sobre as árvores da rua da praia da Pipa, no item dois da Autorização para Remoção de Árvore nº 377/2010, fornecido pela SEMSUR está escrito o seguinte texto: que se proceda ao plantio de três espécimes nativas adaptada ao local. Podemos constar hoje, que no referido endereço foi plantado as espécies de palmeiras areca, com cerca de 50 espécies conhecidas, gênero de palmeira da África e uma árvore exótica de NIN, planta nativa da Índia.

Como esse laudo técnico foi expedido, quais são os critérios de avaliação para a derrubada de uma imponente e majestosa árvore? Na minha pesquisa, existiam 10 mangueiras no Largo de Santa Inês, hoje só resta uma, nada foi plantado para substituir as que foram derrubadas. Sabemos que são construídos diariamente vários imóveis na cidade, que na grande maioria desses terrenos existiam inúmeras árvores, dando lugar a torres de concreto, impermeabilização do solo, criando um aumento de temperatura em seu entorno.

A segurança planetária, com relação as mudanças climáticas, também passa pela mobilização urgente de todo ser humano em preservar os seres vivos, principalmente aqueles responsáveis pela produção de oxigênio que são as árvores.

Precisava tornar público a situação. Fui ao O Jornal de Hoje fazer a denúncia. A repórter Márcia Gardênia, entrevistou-me e publicou na sexta-feira, dia 04 de março, “Ambientalistas se revoltam com corte indiscriminado de árvores”, no caderno Cidade, página 17.

Espero que essa atitude tenha despertado alguma luz de esperança na sociedade, onde casos como esses sejam estudados e analisados com mais carinho e respeito.

Atenciosamente,

Haroldo Mota

(84)9927.6555

3 comentários:

Daniel Maia disse...

Coisa triste. E depois esse mesmo povo que pede a remoção das árvores reclama do calor que só aumenta na capital. É o preço que se paga por umas "manguinhas" no capô dos carros. Todos pagam a conta no final.

Gustavo Szilagyi disse...

Não é só o povo que está errado, meu caro Daniel. A prefeitura foi irresponsável de remover um vegetal em estado saudável, quando uma simples poda e um tratamento fitosanitário seria suficiente.
O problema é que para uma gestão como a que vivemos atualmente, é mais fácil cortar do que tratar.
Agora, que realmente a ignorância deste povo relatado pelo amigo Haroldo MOta é grande, ahhh, isso é sim.
Abraços;

gpontom disse...

Mais uma vez gostaria de contestar veementemente o comentário feito por Haroldo Mota, com relação a retirada de uma mangueira que realmente estava morrendo, no interior do Largo Santa Inês, a referida árvore estava com uma grande broca em seu tronco, secando os galhos e o mais grave tombando em direção a uma rede de alta tensão, inclusive esta situação foi constatada pelo professor Nivaldo designado pelo próprio Haroldo Mota para fazer uma vistoria técnica no local. Os problemas do Largo Santa Inês são outros que eu realmente estou combatendo com muita dificuldade, pois aqui em Natal ainda não existe uma consciência ecológica autêntica. Na maioria das vezes algumas pessoas usam o tema politicamente ou para se promover.