terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Som alto atormenta veranistas nas praias do litoral potiguar

“Abra a mala e solte o som.” O pedido repetido à exaustão pelas bandas de forró de maior sucesso na atualidade leva muitos jovens ao delírio, mas também tem levado veranistas ao desespero nas praias do litoral potiguar.
Quem segue caminho em direção à beira-mar durante o mês de janeiro, em busca de tranqüilidade, está tendo de conviver com o mau hábito de alguns donos de veículos de transformarem seus carros em verdadeiros “trios elétricos”, cuja potência sonora é demonstrada sobretudo nos lugares mais “badalados”.
Na praia de Pirangi, litoral Sul, a situação vem levando veranistas tradicionais até a repensar se vale a pena continuar passando as férias na região. “As praias do litoral Norte estão se valorizando e muitos vão acabar indo para lá, porque paz aqui já não se tem”, lamenta a funcionária pública Ivete Guerreiro. Há oito anos freqüentando Pirangi nessa época, ela afirma que os transtornos são quase diários. “Quando não tem festa no Circo (da Folia) ou no ‘Cirquinho’, vem um bocado de gente aqui para a beira-mar e deixa o som ligado a noite toda”, aponta.
O problema é confirmado pelo também funcionário público Assis Cunha. “Venho há 35 anos para essa praia e está cada vez pior. A polícia até ajuda tentando impedir, mas se os policiais saem cinco metros, eles já voltam a colocar o som nas alturas”, afirma, lembrando que sua irmã sofre com um problema de saúde e não deveria ficar exposta a barulhos tão altos. “A gente quer descansar e não consegue”, reclama.Ambos concordam que a prática só tende a prejudicar a praia, afastando os veranistas, que realmente investem na área e passam meses consumindo no comércio local, e atraindo somente pessoas, cuja permanência não ultrapassa uma noite inteira. “Pagamos impostos altos, mas não para que venha gente só tirar nosso sossego, precisa haver mais fiscalização”, ressalta Assis Cunha.
Para Ivete Guerreiro, o poder público deveria organizar ações conjuntas no sentido de inibir os exageros. “Não queremos que se tire o direito de ninguém ouvir música, mas tem de haver um controle”, descreve. Muitas vezes a própria veranista convence os jovens a diminuírem o volume. Em outras, a polícia chega a ser chamada para sanar o problema.
Assis Cunha defende que deveria haver uma equipe de plantão, de forma permanente, no litoral de Pirangi. Enquanto isso não ocorre, os conselhos de deixar a praia e buscar novos destinos de verão surgem de todos os lados. “Até um policial já me questionou se não seria melhor ir para outra praia”, diz Ivete Guerreiro.
Além do barulho, os veranistas também temem um problema que tem se tornado corriqueiro: jovens e crianças, sem habilitação e nem mesmo um capacete, vêm trafegando com triciclos nas ruas de Pirangi, levando risco aos pedestres e ao trânsito.
O comandante de Policiamento do Interior, coronel PM Francisco Canindé de Freitas, garantiu que a fiscalização vai se intensificar até o final do veraneio. “A recomendação é que os policiais, quando flagrarem algo assim, mandem baixar o som. Se não forem atendidos, devem levar os infratores à delegacia para serem autuados por crime ambiental”, ressalta. Ele afirma que o objetivo é garantir o “máximo de paz aos veranistas.”
Porém, os órgãos municipais de Parnamirim, que deveriam trabalhar juntos, divergem quanto à fiscalização. As secretarias de Meio Ambiente e de Trânsito não chegam sequer a um acordo sobre quem deve ter a iniciativa de coibir os excessos. “Enviamos comunicados ao 3º Batalhão da PM, à Polícia Rodoviária Estadual e também à Secretaria Municipal de Trânsito e esperamos que façam seus serviços. Não há operações conjuntas previstas porque não recebemos respostas e só podemos atuar com relação a estabelecimentos (bares, casas de show), não nas ruas”, afirma a coordenadora de Meio Ambiente, Dinaisa Soares.
Por sua vez, o secretário de Trânsito de Parnamirim, Naur Ferreira, alega que a poluição sonora é um problema que diz respeito à Secretaria de Meio Ambiente. “Até já fizemos operações conjuntas no passado, mas este ano não chegou ao meu conhecimento qualquer pedido nesse sentido”, afirma.

Fonte: Tribuna do Norte - 15/01/2008

Nenhum comentário: