segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Felipe GuerraCavernas que contam a história da Terra

Por Anna Andrade

No Sol do meio-dia, os exploradores atravessam o lajedo à procura da entrada da caverna. Apesar do calor, todos usam macacão de mangas compridas, botas e capacete. Caminham com cuidado para desviar das urtigas e despistar as abelhas. Seguem uma trilha marcada pelos dejetos de bodes e cabras. Tudo isso a procura da árvore, que é a entrada para os mistérios do subsolo. A partir daí, entram em buracos inóspitos habitados por morcegos, aracnídeos e cobras, engatinham por túneis apertados e escuros.À primeira vista, esse roteiro parece não ser atraente. Mas, na verdade, é um privilégio para poucos. O homem já percorreu a maior parte dos caminhos da natureza, escalou montanhas, mergulhou nos mares e foi até o espaço para pisar na lua. Entretanto, muitas áreas do subsolo ainda continuam sendo um universo inexplorado. E é justamente isso que encanta: saber que ali ninguém esteve antes, descobrir novas paisagens e imaginar uma época em que os homens pré-históricos usavam as entradas das cavernas como abrigo.

Mapeamento das cavernas



Segundo Sólon Almeida, fundador da Sociedade Espeleológica Potiguar – SEP, existem 219 cavernas catalogadas no Rio Grande do Norte. Só na área de Felipe Guerra são 129. Estas cavernas ainda estão passando pelo processo de mapeamento feito por ele e outros membros da SEP. O registro destas áreas é essencial, pois somente depois desse processo a caverna passa a “existir” e a ter a sua preservação auxiliada pelas leis nacionais de proteção ambiental.

Lajedo do Rosário



Saindo do município, em direção a zona rural, chega-se ao Lajedo do Rosário, também conhecido como Lajedo da Carlinha. No local, o visual é deslumbrante. A vasta área é coberta por rochas, com árvores que brotam em solo seco e cabras que passeiam pelo local. A vegetação é repleta de pequenas plantas urticantes, várias cactáceas como o xique-xique e coroa-de-frade, havendo, também árvores bem desenvolvidas como cráibeiras, mulungus, faveleiras, pereirose oiticicas, dentre as inúmeras espécies nativas.
Dentro das cavernas, o percurso é cheio de caminhos sinuosos, túneis estreitos, locais onde o solo é irregular e pontiagudo, onde só é possível atravessar rastejando. Em algumas cavernas esse caminho se alarga e leva a salões, que variam de tamanho. Alguns são iluminados pelas fendas que permitem a passagem de luz solar, as chamadas clarabóias. Olhando para cima, pode-se observar árvores com longas raízes, descendo metros para se fincarem ao solo. Um visual inesquecível.

Formação das Cavernas

A história das cavernas de Felipe Guerra, remonta a época na qual a costa leste do continente sul-americano era presa à costa oeste do continente africano, há cerca de 90 milhões de anos, no período Cretáceo. Quando os dois continentes começaram a se separar, formou-se um mar no espaço criado. Seres vivos que habitavam tal mar, quando morriam, deixavam acumuladas no leito desse oceano as partes rígidas de seus corpos, como as carapaças e os pedaços de corais. Essa matéria orgânica é constituída por carbonato de cálcio, semelhante aos ossos humanos.
Passados alguns milhões de anos, a deposição contínua desta matéria orgânica, gerou uma camada com centenas de metros de espessura que, uma vez comprimida por outros materiais que foram se depositando sobre ela, gerou uma rocha chamada calcário. Quando a América do Sul já estava totalmente separada da África, essa rocha foi exposta à superfície e, uma vez estando em contato com a chuva e o vento, passou a ser dissolvida em suas partes mais frágeis. É comum ver fraturas ou rachaduras em qualquer rocha e esses são os locais mais vulneráveis.
No caso da rocha encontrada em Felipe Guerra, foi por essas fissuras que a água penetrou, dissolvendo o calcário, e gradativamente alargando as rachaduras. O alargamento das rachaduras das rochas no interior da Terra, seja pela água da chuva, seja pela água dos lençóis freáticos ou rios, criou um ciclo no qual o material é retirado de alguns locais e depositado em outros. Assim surgem as cavernas, criadas nos vazios abaixo da superfície. Porém, em outras épocas, quando a água que dissolve o carbonato de cálcio fica saturada, faz o carbonato precipitar formando os cristais nas paredes da rocha. Essas formas são conhecidas como espeleotemas, dentre os quais, as mais populares são as estalactites.

Preservando o Ecossistema

Nas cavernas, existe um delicado ecossistema adaptado à vida subterrânea. Alguns seres usam esse ambiente como proteção e outros para reprodução. Os que vivem exclusivamente nas cavernas são chamados de Troglóbios. Eles geralmente apresentam adaptações como a despigmentação do corpo e o atrofiamento dos olhos, causados pela falta de iluminação. Peixes, crustáceos e insetos, por exemplo, são comuns entre as espécies já identificadas. A conservação dessas áreas é muito importante para a preservação dos seres e de materiais orgânicos, como ossadas de animais extintos, pólens de antigos vegetais que, quando estudados, revelam importantes informações sobre a história da Terra. As pessoas que retiram o calcário para produzir a cal e a perfuração de poços para a exploração do petróleo na região, são as principais ameaças para o ambiente das cavernas.
O turismo ainda não chegou ao local e talvez isso não aconteça. Ainda não foram feitos estudos que avaliam a capacidade de pessoas que as cavernas sustentam ou se é mesmo possível receber visitantes freqüentemente, sem que isso cause impactos. Contudo, é importante ter em mente que para entrar nas cavernas deve-se ir acompanhado por um guia especializado ou um espeleólogo. O acesso é difícil, e por dentro o deslocamento é complicado, pois, como já foi dito, elas são pequenas e apertadas e algumas aranhas que as habitam possuem um veneno necrosante. Por isso, a importância de se usar roupas adequadas. A vestimenta ideal para a exploração das cavernas é um macacão grosso com as extremidades fechadas. Mas é bom deixar claro que os insetos só atacam em defesa, o que é muito raro acontecer porque geralmente eles fogem ao sentir a presença de pessoas.
Para a população da cidade, as cavernas ainda são um mistério. A maioria nunca desceu pra ver o que há dentro. É comum as pessoas comentarem sobre as rochas que estão na superfície, como a Abaeté, que segundo a lenda esconde um bezerro de ouro, e a famosa Pedra da Abelha que deu o primeiro nome a cidade. Além das cavernas, quem for à Felipe Guerra irá encontrar um povo muito simpático e hospitaleiro, que logo reconhece um forasteiro, além de locais maravilhosos para banho, como o Olho d’Água e o chuveirão do Tamarindo, que se encontram em propriedades particulares. E para encher o “bucho”, uma comida regional deliciosa, como feijoada, galinha caipira e pirão de banana tradição na cidade , além das carnes de boi, porco e bode. Em Felipe Guerra há muita fartura e tranqüilidade. Certamente é um local onde a natureza se preparou para encantar os visitantes.

Um comentário:

Anônimo disse...

as cavernas de felipe guerra realmente são muito bonitas.
no momento eu estou fazendo um documentario sobre as cavernas de felipe guerra e passei pra visitar i site achei muito legal
parabens !!!